7.2.22

nada engraçado

Sabe o que é o mais engraçado em receber 6 diagnósticos com uma resposta em comum? Bem, antes há o que é um pouco menos engraçado, ainda assim, irônico: a parte em que você desacredita de todos os que te deram tal diagnóstico. E é tão fácil desacreditar quanto acreditar. E é tão angustiante desacreditar.

Perder a certeza de vista não quer dizer que a certeza tenha ido embora, quer dizer que você não a vê mais e que a sua percepção de repente mudou. Pior: essa repentina mudança de percepção talvez confirme o diagnóstico. Então a parte engraçada é: a única que resta. Todas as outras partes estão ressequidas pela raiva de não encontrar nenhuma lógica suprema. Talvez a lógica nem exista. 

Não há parte engraçada, não há parte nenhuma. 
Eu só vejo uma coisa: um nada com letras garrafais. 

um outdoor: N A D A - visualize.

Eu não vejo nada, ou melhor, eu vejo o nada. Tristemente, me sinto familiarizada com essa cegueira; abraçada de forma sucinta pela densa escuridão. Só que eu não queria acreditar que a escuridão faz parte do que chamo de familiar. Mesmo assim, aqui está ela, de mala e cuia, recém chegada de uma longa viagem e ansiosa para conhecer minha nova casa, literalmente

E eu a recebo, eu fico com ela, eu deixo que ela me abrace. 
Porque talvez no fundo eu soubesse que ela voltaria... mas, tipo, bem no fundo mesmo.. E aí tem isso: a memória das profundezas. É isso que a escuridão traz nas malas: memórias que lutei para afundar. Paradoxalmente, rever essas memórias afogadas é algo novo, por isso tão surpreendentemente doloroso. Oh, Deus, 

Oh, Deus...

Eu realmente gostaria morrer antes de lembrar que já quase morri. Ou que já morreram milhões de vidas em mim.

Mas a culpa não é Sua, nem minha, nem dos diagnósticos, nem da escuridão. Se eu fosse culpar alguém, simplesmente culparia o tempo. É por ele que estou aqui. Maldito tempo que fica passando os bons dias antes de a gente se preparar para deixá-los partir. 

É você quem eu vou culpar por agora, tempo, até que eu me lembre de que não preciso achar o culpado deste nada prostrado diante de mim. Até que você passe novamente, junto com essas lembranças encharcadas. 
Quando? 
Me liberto da vontade de querer saber, até porque nem tenho como, até porque agora só tenho o nada e a gente tem que viver com o que tem. Esse nada diante de mim, eventualmente, vai se tornar alguma coisa, disso eu sei. 

Sabe de uma coisa? Ter essa certeza de que o nada é passageiro tem algo a ver com esperança. A boa notícia é que a esperança pode coexistir com a escuridão e é aí que o gato pula, porque se existe esperança é porque o nada já foi embora.

Escuridão e esperança não precisam duelar, apenas conviver juntas por um tempo. 

Quanto? Me liberto da vontade de querer saber.
Agora sou livre duas vezes e já me sinto melhor. Talvez essa seja a parte engraçada: o fato de que quando o nada é fisicamente substituído pela esperança, qualquer coisa é possível. Não, isso não é engraçado, mas, como disse, talvez seja. Pode ser. Tudo. Pode. Ser.

No final das contas, acreditar e desacreditar só faça parte da construção de um raciocínio. Então é mesmo angustiante, mas depois não é. Só tem que escolher as coisas que vão ser creditadas e as que não vão. Isso é meio complexo de fazer, mas complexa é a vida e aqui estou estou eu: viva.

Haha.

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