discussão entre uma parisiense criada em Toscana e um novaiorquino de Nova Iorque mesmo.
"eu sabia que você faria isso". - o novaiorquino
"eu não. mas aconteceu. por isso tô aqui pedindo desculpa" - a italiana
"ok, tanto faz. mas não venha mais falar comigo. nem comigo meus amigos. não chega perto de mim. eu não quero saber de você. você é uma traíra manipuladora".
"eu sei muito bem dos meus erros, mas sei também do que não sou. manipuladora é uma dessas, mas você acredita no que quer ué."
"eu já deveria ter ido embora. você mentiu muito para mim... nem sei o que estou fazendo mais. não manipule meus amigos. tenho nojo de você. tenha também".
meses passaram, emoções passaram.
nem todas, na realidade.
a conclusão foi que o erro de um revela o caráter do outro. cômico.
inclusive, a cultura geral do humor vem de erros e problemas.
por isso a vida é super engraçada.
se o diálogo continuasse em Paris, terminaria assim:
"o problema, hoje, está no seu espelho.
não que ele esteja sujo
não que ele esteja velho
não que ele esteja quebrado
é só que ele está limpo demais... sabe?
e longe demais, também.
o que está suja
é a sua visão.
é velho o tempo da sua última análise sobre a verdade da sua condição humana
que é a mesma que a minha!
e sabe o que está quebrada? as suas expectativas
e a sua visão sobre mim.
eu, conscientemente fragmentada,
me olho no espelho todos os dias para conferir profundamente os pedaços que ainda preciso juntar. tem semanas que me quebro todos os dias. e reconheço que isso machuca os que estão ao redor.
você? acumula toneladas de ódio e rancor numa mochila maior que sua enorme ignorancia.
por isso anda tão corcunda. pobre figura é você, novaiorquino, pobre de alma. pobre de humildade.
mas o espelho ainda está por aí se desejar olhar nele também. reconheça: você é cômico de tão rancoroso e a sua tragédia me faz rir. perdão."
como isso terminaria em Nova Iorque? Com as fronteiras bloqueadas, não sei quando saberei, mas tenho interesse em saber. Vai me fazer olhar mais de perto nos meus próprios olhos e descobrir os perdões que ainda preciso pedir.
liberdade é isso: se olhar no espelho graciosamente. aceitar os erros. o tempo dos outros, mas nunca se apropriar de ciladas que você, na sua humilde sinceridade, sabe não serem suas. liberdade. guarde este conceito.
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