17.1.18

sentido adulterado


era como se o meu eu se escondesse de mim.
porém, descobri que ele estava nas borboletas do meu estômago e nos alfinetes debaixo da cama.
todas as limitações estavam em me sentir conformada demasiadamente.
isso foi tão significativo para mim que convidei toda a vila para comemorar, inclusive os irmãos da igreja e os do manicômio - que são os mesmo irmãos.
mas o festejo foi um tanto complicado. (o que não é, afinal?)

eis o problema: não me interessava ouvir as músicas até o fim, entretanto, eu me deliciava nos trinta primeiros segundos de cada canção. uma pena o quarteto não ter entendido isso.
eis o que fiz: organizei os convidados para jogar a "dança da mesa" - um jogo onde cada pessoa deveria arrumar uma mesa de acordo com o ritmo da música, em trinta segundos. logo, cada partida durava 30 segundos, tempo de cada música durar somente o tempo que eu queria.

é, quando as coisas não saem como o esperado, a gente precisa dar um jeito.

mas, não foi só isso.

meus irmãos tinham ido para a celebração de olhos fechados.  isso os impediu de ouvir o que eu tinha a dizer.
não consegui perceber se em algum momento eles entenderam o que eu disse - o que foi muito frustrante. de nada adiantou meu belo discurso, e sabe, despir o seu eu é compartilhar o que de mais  precioso existe na gente!
 ah, se pelo menos um deles tivesse me ouvido...

foi quando descobri o motivo da desatenção.
era uma pintura

como pode alguém ter olhos abertos para pinturas e fechados para o despir da alma?
a diferença estava no que se despia em cada atração.
mas eu não podia fazer nada por eles,
então saí.

foi culpa do despudor da pintura?
não posso garantir, pois não há culpa sem alguém para assumi-la.
porém, se de uma coisa eu tenho certeza, é que o explícito adulterou o sentido do despir.


Um comentário:

  1. Nossa... Faz muito tempo que eu não tiro um tempo para ler algo com tanta satisfação!
    Apenas continue.

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