17.1.18

histórias que descem pelo vaso: conto piloto de Túlia e os Treco

é uma pena que algumas ideias fiquem para trás
no banheiro e no parque

essas seriam as ideias de melhor expressão
mas elas ficaram para trás
no banheiro e no parque

da mesma forma, algumas ideias são como as fezes:
elas ficaram para trás,
no banheiro e no parque.

e agora um poema: a doçura amarga da madruga descarga

eu fiz xixi bem baixinho
para não acordar o casal
mas a descarga pareceu um trovão

(aqui acaba o poema, mas continua a história)

vocês não se assustam?
é como se tudo parecesse mais alto de noite

"minha doce amada, quem está no nosso banheiro?"
- pergunta o recém-casado Bartolomeu
"oh, meu bem, não ouvi nada e a luz está apagada"
- responde a recém-casada Cleudete

Bartolomeu se levanta e vai ao banheiro.
Ao abrir a porta, se depara comigo enquanto lavo as mãos.

"o que você veio fazer na minha casinha a esta hora da madrugada, senhorita Túlia?"
Respondo com um olhar sereno e um pouco envergonhado:
 "xixi..."
"oh, Tulinha, quantas vezes já te disse que não se pode fazer xixi na casa dos outros
às 3 da manhã!"
Então me dou conta de que Bartolomeu realmente me dissera aquilo várias outras vezes.
"perdão, sr. Treco. mas acontece que essa sua descarga é alta demais."
"sim, querida Túlia, planejo arrumar isso aí esta semana."

nos despedimos e vou embora pela porta dos fundos, por onde entrei.

Bartolomeu volta para cama e senta, reflexivo
"o que foi, amado?" - indaga Cleudete
"esta já é a quinta vez do mês que encontro a Túlia em nosso banheiro"
"está tudo bem, querido, ela é apenas um pesadelo"

a caminho de casa, olho para trás e vejo Sra. Treco consolando seu esposo.
só então entendo a doçura amarga do erro que foi fazer xixi na casa dos Treco: eles não têm dinheiro para arrumar a descarga.

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