Madrugada do último domingo de julho. A polícia local de Coeymans recebe uma ligação. Do outro lado da linha, um senhor de 62 anos conta que está preso num poço de lama e precisa de resgate. Seria ele um destemido aventureiro passado da meia idade à procura de novos desafios pelas florestas de Nova Iorque? Não, o que ele procurava eram monstrinhos coloridos. O que também pode ser considerado uma grande aventura.
Não é por acaso que o novo jogo mais baixado na apple store e google play, Pokémon GO, faturou US$ 200 milhões em apenas um mês. A comovente história do velhinho caçador é só mais uma das tantas que viralizaram na internet, afinal, quem não se diverte jogando pokemons acaba por se divertir com esses relatos bizarros. O fato em questão se torna real uma vez que todos os seres humanos se divertem com ou sem pikachus, bulbasauros e grimers. Por isso, não é de se admirar que tantas opiniões divergentes tenham emergido. Como declarou nosso digníssimo apresentador do programa Brasil Urgente na quinta passada: “Esse país quebrado e você atrás de bichinho na rua? Ah, vai te catar!”. É visto que existem milhares de modos para a diversão. Algumas delas bem peculiares, como, -com todo respeito- apresentar o jornal usando uma cueca amarela. Assim como esse fenômeno, as outras diversões também podem ter uma finalidade significativa. Quantos relatos não vimos sobre introvertidos que só jogavam videogame dentro de casa e através desse jogo de caçar bichinhos tiveram um nível de sociabilidade maior? E é preciso admitir que todos nós, uma hora ou outra, já desperdiçamos o precioso tempo para desfrutar da ociosidade. O aplicativo Pokémon GO não criou nenhum vagabundo, apenas pegou a massa entediada das redes sociais, filmes etc e transportou para um local em comum, o jogo. Essa é a grande realidade.
Tão grande que nos dá um incontestável vislumbre da era em que vivemos. Fenômenos têm essa característica de evidenciar a “personalidade” do ser humano em cada época. É lógico que a chegada do Pokémon GO não pode ser igualmente comparada ao iluminismo ou à revolução industrial, mas em cada caso, é claro o modo de viver e pensar de cada massa. Diante de tudo isso, o que a repercussão do Pokémon GO revela da sociedade do século 21? No mínimo, uma sociedade que reclama da falta de tempo, mas que perde metade dele com mediocridades. Aqui entra uma lição para todos nós, caçadores de pokémons, amantes do netflix e até dorminhocos exagerados: devemos conferir se nós estamos fazendo alguma diferença no meio no qual estamos inseridos através da maneira que usamos nosso tempo, principalmente antes de ridicularizarmos quem faz isso ou aquilo.
Não duvido que em breve a epidemia GO diminua, afinal, o jogo ainda precisa ser muito bem atualizado. Se o ser humano continua desenvolvendo suas capacidades inusitadas, outras tendências malucas estão por vir. Só espero que nenhum velhinho caia na lama tentando se adequar a uma delas...
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