19.5.24

esconde-esconde

querer sorrir e agradecer quando seus olhos estão úmidos e mal conseguem expressar qualquer alegria ou gratidão é uma tentativa completamente falida de ser feliz. é até uma hipocrisia gorda, afirmo com certeza.

tudo falha, na realidade, quando seu coração sofre escondido.

é um jogo de esconde-esconde; um ridículo jogo de se esconder. 

tão bem se escondem as razões do sentimento de vazio que qualquer um que as tenta encontrar, acaba perdido também.

então, perdida estou neste vácuo tão cheio de labirintos.

e como deveria eu pedir ajuda se temo tanto perder mais alguém dentro do meu próprio vazio?

acho ridículo esse jogo pois no final das contas, ninguém ganha. como se alguém estivesse contando os malditos pontos. como se competitividade fizesse diferença.  

se ao menos a psiquiatria ou mesmo Deus achassem algo no meu coração, 

poderiam eles me dizer se o que falta é remédio ou oração.

quero concluir tudo isso, concluir - para não soar dramática e dizer que só quero um ponto final.

como seria um drama seria pedir por um ponto final? 

porque nas regras do esconde-esconde do meu coração, o ponto final é da minha própria existência. abençoada e cheia de vigor entre os baixos e altos, mas com baixos tão profundos que, se eliminados, eliminariam esta que chamo de abençoada e vigorosa vida.

contraditória no que se refere ao que digo e tento dizer; entre o que sei estar sentindo e minha perda de razão.

a única certeza que tenho é de que dói estar numa guerra de olhos vendados, atirando para todas as direções, menos a certa. as balas acabam também. 

sei que muitos sentem essa dor e que muitos já se perderam por ela. meus sinceros sentimentos conhecidos por todos eles. 

mas, e quem deu a volta por cima? odeio esse termo, é tão banal. 

não se dribla a dor, se aprende a conviver com ela, afinal... 

bem, para mim, é preciso falar sobre ela, chorar sobre ela, ter raiva dela para, enfim, lembrar que ela faz parte do que me compõe como ser humano.

logo, se chego ao ponto de acreditar que há uma dissociação entre a dor e eu, achando que meu coração brinca de esconde-esconde, é aqui, especialmente aqui que a hipocrisia começa.

olhando para atrás, percebo que sempre andei de mãos dadas com a dor mesmo nos momentos de mais dourada felicidade. 

por trás de todo sorriso adulto existe a gratidão de haver aprendido conviver com a dor. talvez este seja o ponto de encontro; tanto entre minha infância inocente e adultice eminente quanto entre a própria dor e eu mesma.

não é sobre procurar onde a escuridão se esconde, mas lembrar que ela faz parte de mim. 

agora consigo enxergar minha própria cegueira. tão raso apenas querer que a dor se vá... tão vão pensar assim.

a dor não passa de um lembrete de que ela mesma não é o fim, um meio talvez. danada essa dor. pensar sobre ela está mais para um quebra cabeça do que para um jogo de esconde-esconde - e no que se refere a quebrar a cabeça eu ganho.

o crescimento me trouxe cada vez mais e inimagináveis novas dores, mas também mais formas de lidar com elas. se cresci tanto, é porque aprendi a viver ao lado delas. oh, e eu cresci tanto para brincar de esconde-esconde com sentimentos.

de um jeito ou outro, eu sou feita dessas dores, 

entre tantas boas emoções e alguns horrores. 

olhando por esse lado, fico genuinamente grata por sofrer. 

posso até sorrir por isso e, dessa vez, de verdade. cada lágrima tem seu tempo, assim como cada alegria também.

se dói hoje, ok dor, estamos empatadas e de mãos bem dadas.

é isso sim,

a dor não é o fim. 

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